Café

 Me lembro de quando era pequena, odiava acordar muito cedo mas eu não tinha muita escolha, porém ao levantar e abrir a porta do quarto, o cheiro de café pela casa me tirava o mal humor.

Meu avô acordava cedinho, ia a padaria para comprar pães quentinhos, fazia o café e aquecia o leite na leiteira, e essa leiteira era o que acordava a casa se você já não havia despertado.

Se você viveu nos anos 80/90 talvez se lembre dela. A leiteira tinha uma pontinha na lateral que, ao rosquear, saía revelando um buraco no qual se colocava água. 

“Água?! Mas não é leiteira?” - você me pergunta. Pois é…

Após encher de água esse compartimento secreto, a pontinha era posicionada novamente em sua origem, fechando o buraco e mantendo o líquido preso. Feito isso, a panela era enchida com leite e colada no fogo. Alguns minutos depois você acordava.

Aquela pontinha que encarcerava o líquido da vida nada mais é do que um apito dos infernos, que tirava sua alma do corpo enquanto você pedia clemência.

Nenhum despertador é tão potente, acredite…

Enfim, após recuperar sua alma, era o melhor café com leite da vida. O pão tão quente que você cortava segurando com um guardanapo pra não se queimar, e ao abri-lo, a fumaça confirmava aquilo que sua mão já sabia. A manteiga firme e sem sentimentos dava origem a um óleo repleto de amor, se esparramando sem resistência aquele calor inegável.

Eu sei que Nescau é melhor que Toddy (polêmico), biscoito e bolacha são a mesma coisa, mas nada é melhor que um bom café.